26/03/2022

Os reais motivos para que a Globo não renove o contrato com Galvão Bueno Os reais motivos para que a Globo não renove o contrato com Galvão Bueno





Galvão Bueno confirmou na última quinta-feira (24/3), que vai sair da Globo no fim do ano após 41 anos na emissora. O contrato do locutor esportivo com a casa termina no fim de 2.022 e não será renovado. 

O último trabalho dele como narrador na televisão será na Copa do Mundo do Catar, entre novembro e dezembro. O apresentador fará outros trabalhos, mas diz que não assinará com outra emissora.

No Twitter, Galvão anunciou a saída. "Jogo de despedidas. Último jogo da Seleção no Brasil antes da Copa! Último jogo de Tite no Brasil como técnico da Seleção! Meu último jogo da Seleção no Maracanã em televisão!", escreveu o principal narrador da televisão brasileira.

Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quinta-feira, ele confirmou o fim do contrato, mas ressaltou que deixará as portas abertas.

"Globo é minha casa. Então, a nossa conversa nesse momento é: o que irá acontecer, como deixaremos as portas abertas e que porta será utilizada depois de 18 de dezembro. É impossível você dizer no mundo 'não, nunca mais'. A vida me ensinou isso. Mas neste momento eu diria, narração em TV aberta, não mais", disse.

A decisão de não renovar mais uma vez seu contrato fixo partiu da Globo e por vários motivos.

O primeiro deles está na preservação da história de 41 anos do polêmico narrador, voz oficial do esporte na emissora desde 1981. Para o novo comando da Globo não há cabimento expor Galvão, que perdeu potência na voz. Algo humano para quem fará 72 anos em Julho.

Vivido, esperto, inteligente, Galvão sabe que não tem mais fôlego e que sua voz sofre enorme distorção nos momentos fundamentais de uma partida de futebol. Como na hora dos gols. O que ele está fazendo desde a Copa de 2014, quando os primeiros sinais de desgaste vocal já apareciam? 

Passou a comentar mais do que narrar. A conversa com comentaristas, repórteres e ex-árbitros traz mais informações sobre o jogo. Mas a partida não é narrada de forma integral. Galvão passou a se poupar para os principais lances.

Galvão Bueno foi brilhante. Ele já tinha 63 anos quando passou a se poupar. Esticou sua permanência como o principal narrador da emissora carioca por mais oito anos. Não há como negar que se manteve como o principal, o melhor narrador do país por esses 41 anos. Para os novos diretores da Globo não há motivo para manchar essa história permitindo que ele perca de vez a voz no ar.

2.019 foi um ano marcante, que encaminhou a despedida de Galvão. Em novembro daquele ano, ele teve sérias dificuldades em narrar Grêmio e Flamengo, na semifinal da Libertadores, precisando até pedir desculpa aos telespectadores. Posou para as redes sociais com o aparelho de laser que acabaria com o edema em suas cordas vocais.

Só que em dezembro, no mês seguinte, ele teve um infarto, no Peru, para onde havia viajado para narrar a final da Libertadores, entre Flamengo e River Plate. Precisou se submeter a um cateterismo, às pressas, para desobstrução das artérias do coração. 

A Globo descobriu que ele não era eterno.

E a cúpula se voltou para a "ordem natural das coisas". Investir em Luiz Roberto, que, apesar de paulista, como Cleber Machado, já se tornou uma voz aceita entre os cariocas e os demais estados brasileiros, de acordo com pesquisas da emissora.

Para completar o quadro, há a enorme crise financeira que a Globo enfrenta. E a obrigou à mais intensa reformulação de sua história.

Dispensou inúmeros jornalistas importantes e "mais velhos". Assim como acabou com contratos fixos de atores históricos, que passaram a receber por obra realizada.

O salário de Galvão Bueno sempre foi tratado como um segredo de Estado. Há quem garanta que ele chegava a receber R$ 5 milhões mensais. Mas a hipótese mais difundida é que ele recebeu R$ 1 milhão até o fim de 2.018.

A partir de 2.019, quando foi cortada parte substancial das verbas federais, a emissora partiu para os cortes. E Galvão teria passado a ganhar R$ 500 mil, a metade. Só que com a liberdade inédita de começar a fazer publicidade.

Ainda em 2.019, sua voz estava nos voos da Gol. Depois, foi criado o quadro "Na Estrada com Galvão", em que ele mostrava lugares com veículos da Volkswagen.

Depois, encampou uma campanha da Serasa, e não parou mais. Postos Petrobras, WhatsApp, Santander, EQI Investimentos, Havaianas e por último o TikTok.

O fato de Galvão parar de transmitir os jogos não significa, necessariamente, que não terá mais relação alguma com a emissora carioca.


É o fim de contrato do narrador, mas existe a possibilidade de que ele se torne um apresentador especial de eventos, comente jogos. E siga no comando, por exemplo, do programa "Bem, Amigos", da Globonews. 

Aliás, é algo que ele deseja, mas não está certo.

Redação com Agências / Imagens: reprodução Globo e Redes Sociais