19/03/2023

Cássio Cunha Lima homenageia o pai, Ronaldo, que completaria 87 anos Cássio Cunha Lima homenageia o pai, Ronaldo, que completaria 87 anos




O poeta e ex-governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima completaria 87 anos de idade neste sábado (18) se vivo estivesse. O filho, Cássio Cunha Lima, que também já governou o Estado, prestou uma homenagem ao político, com um poema de autoria do próprio pai.

Se vivo estivesse o Poeta Ronaldo Cunha Lima, meu amado e saudoso pai, estaria completando hoje 87 anos de vida. Presto minha singela homenagem postando esse, que a meu ver, é o mais notável dos seus poemas.

Habeas Pinho

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca

O instrumento do crime que se arrola

neste processo de contravenção

não é faca, revólver nem pistola,

é simplesmente, doutor, um violão.


Um violão, doutor, que na verdade

Não matou nem feriu um cidadão.

Feriu, sim, a sensibilidade

de quem o ouviu vibrar na solidão.

 

O violão é sempre uma ternura,

instrumento de amor e de saudade.

O crime a ele nunca se mistura.

Inexiste entre eles afinidade.

 

O violão é próprio dos cantores,

dos menestréis de alma enternecida

que cantam as mágoas que povoam a vida

e sufocam suas próprias dores.

 

O violão é música e é canção,

é sentimento vida e alegria,

é pureza é néctar que extasia,

é adorno espiritual do coração.

 

Seu viver como o nosso é transitório,

mas seu destino, não, se perpetua.

Ele nasceu para cantar na rua

e não para ser arquivo de cartório.

 

Mande soltá-lo pelo amor da noite

que se sente vazia em suas horas,

p’ra que volte a sentir o terno açoite

de suas cordas leves e sonoras.

 

Libere o violão, Dr. Juiz,

Em nome da Justiça e do Direito.

É crime, porventura, o infeliz,

cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

 

Será crime, e afinal, será pecado,

será delito de tão vis horrores,

perambular na rua um desgraçado

derramando na rua as suas dores?

 

É o apelo que aqui lhe dirigimos,

na certeza do seu acolhimento.

Juntada desta aos autos nós pedimos

e pedimos também DEFERIMENTO.


Ronaldo Cunha Lima, advogado.

 

O juiz Arthur Moura deu sua sentença no mesmo tom:

Para que eu não carregue

remorso no coração,

determino que se entregue

ao seu dono o violão.

Redação com Polêmica Paraíba / Foto: Ronaldo Cunha Lima governador da Paraíba em 1.992 com o jornalista Paulo Roberto no Restaurante Miúra