27/12/2024

LULA E OS EVANGÉLICOS - Presidente ainda busca discurso para amolecer resistência LULA E OS EVANGÉLICOS - Presidente ainda busca discurso para amolecer resistência




Que Lula (PT) precisa melhorar seu diálogo com as igrejas evangélicas, muita gente concorda. O presidente só não está totalmente convencido sobre a melhor abordagem para tanto.

Cumprida metade de seu terceiro mandato, Lula fez alguns gestos para o segmento que vem lhe dando más avaliações em série.

Ainda assim, auxiliares apontam que ele tem dificuldade de reconhecer a dimensão do problema e não gosta muito da ideia de formular uma mensagem específica para o grupo.

Desde a campanha de 2.022, o presidente se diz convencido de que é capaz de falar para todos os brasileiros, independentemente da religião. Resta a seus correligionários ir tentando abrir canais diretos com esse bloco cristão, que já deu maioria dos votos ao petista no passado.

Lula evitou o quanto pôde marcar agendas evangélicas durante uma corrida de alto calibre religioso, com Jair Bolsonaro (PL) aplicado no beija-mão a pastores. Sua equipe organizou dois encontros, um no primeiro turno e outro no segundo, com lideranças progressistas amigáveis ao PT, mas com pouca capilaridade nos templos.

Algumas cenas dos anos 2000, quando presidiu o país por oito anos, podem hoje parecer insólitas. O pastor Silas Malafaia apareceu em sua propaganda eleitoral em 2.002, o senador Magno Malta (PL-ES) exaltou uma “história vitoriosa” de vida, o bispo Edir Macedo se empenhou na eleição de sua protegida Dilma Rousseff.

Os anos Bolsonaro, de intensa cruzada antipetista nas igrejas, ajudaram a calcificar um ranço contra Lula entre fiéis. Levantamentos do Datafolha indicam que, mesmo fora do contexto agressivo da eleição, essa parcela segue refratária ao petista.

A avaliação positiva do governo não chegou a piorar. Em março de 2023, 28% dos evangélicos diziam que o governo era ótimo ou bom. Agora são 26%.

O problema para Lula se dá na outra ponta. O percentual de crentes que classificam a gestão como ruim ou péssima foi de 35%, no início do mandato, para 43% na pesquisa de dezembro deste ano. A margem de erro para esse recorte religioso variou de quatro a cinco pontos percentuais nas pesquisas.

O segundo ano do Lula 3 marcou um ajuste de rota. Na avaliação interna, são notórias as dificuldades de comunicação da esquerda com as igrejas. Por um lado, atribui-se o entrave a uma fábrica de fake news da direita contra o PT. Por outro, admite que a esquerda perdeu seus laços com uma periferia que acabou forjando vínculos comunitários profundos com denominações evangélicas.

Poderia ser pior. Auxiliares lulistas celebram a aproximação com o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), ex-bolsonarista que há dois anos disse que receberia militantes petistas “na bala”.

Em outubro, ele liderou uma bênção coletiva a Lula, que sancionava no dia a criação do Dia Nacional da Música Gospel. Otoni tenta, agora, eleger-se presidente da bancada evangélica em 2.025. O Planalto torce por esse desfecho.

O deputado mantém uma crítica genérica à esquerda, mas hoje diz que não lhe cabe “ficar xingando Lula”.

Há, para desafetos de Otoni, uma flagrante disposição fisiológica em seu comportamento. Já assessores de Lula veem com alívio a reconstrução de pontes entre fiéis e governo.

Continua um impasse no Executivo ante uma PEC que amplia a imunidade tributária das igrejas, apresentada pelo deputado federal Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), sobrinho de Edir Macedo.

Redação com AF  /  Imagem: Reprodução divulgação PR