22/09/2018

Os efeitos positivos e negativos da junção entre futebol e política Os efeitos positivos e negativos da junção entre futebol e política




A disputa eleitoral chegou com tudo aos estádios de futebol. A politização no esporte está abrindo guerra entre as torcidas — até internamente — e criando constrangimento para os clubes à medida que surgem declarações públicas de apoio a candidatos. Embora a mistura entre política e futebol não seja uma novidade, num esporte que teve movimentos como a Democracia Corinthiana, na década de 1980, o atual ambiente acalorado e polarizado entre eleitores de esquerda e de direita desperta preocupação em torcedores e especialistas. E tem potencial até de influenciar os votos de indecisos na base da radicalização, e não da racionalização.

O clima político se aprofundou de vez no futebol no último domingo, em duas situações. Numa delas, o jogador Felipe Melo, do Palmeiras, dedicou o gol que marcou contra o Bahia ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Na outra, no clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG, parte dos atleticanos disse que o capitão reformado “mataria veado”, em provocação aos rivais. No mesmo jogo, cartazes de teor político foram exibidos nos telões do Estádio Mineirão.

A hostilidade de atleticanos criou um clima de tensão, avalia o empresário Ronny Marques, 27 anos, presidente da Máfia Azul Brasília, torcida organizada do Cruzeiro na capital federal. “O perigo já chegou, e isso é preocupante. O torcedor está à flor da pele, tanto em questão de política quanto de futebol”, avaliou. “E qualquer coisa pode ser motivo para as pessoas estarem ali buscando formas de violência, de briga. Criar mais uma forma de provocar e arrumar confusão é alarmante.”

O ambiente de polarização se mostra intenso mesmo dentro das torcidas organizadas. Por esse motivo, a Máfia Azul decidiu não apoiar nenhum candidato. Em Minas Gerais, apoia Aécio Neves (PSDB) para deputado federal, e Rodrigo Pacheco (DEM) para senador. Sem unanimidade na cúpula quanto à escolha de presidente da República, a opção foi pela neutralidade.

O clima é preocupante, admite o sociólogo e cientista político Fábio Metzger, professor da União das Instituições Educacionais de São Paulo (Uniesp). O analista não descartou a possibilidade de os ânimos aflorados desencadearem conflitos entre torcedores de mesmo time e rivais. “Se já brigam por futebol, a disputa política pode virar uma centelha para explosão”, ressaltou.

Redação com Rodolfo Costa e Gabriel Ponte CB