25/12/2018

Pilota desde os 8 anos, Bia Figueiredo confessa assédio o tempo todo nas pistas Pilota desde os 8 anos, Bia Figueiredo confessa assédio o tempo todo nas pistas




Não faz muito tempo que Bia Figueiredo percebeu um erro de postura que vinha cometendo: imersa desde os 8 anos de idade no automobilismo, acabou tendo parte da personalidade moldada por um universo formado por homens e não se importava em ser exemplo para outras mulheres.

Não que a atual piloto de Stock Car, primeira brasileira a correr na Fórmula Indy e a disputar as 500 Milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos, tenha se tornado uma ativista dos movimentos feministas. Mas hoje, aos 33 anos, 25 dedicados às pistas, ela entende melhor o seu papel. E revela, nesta entrevista ao Estado, como foi criando uma “casca” para se proteger do assédio nas pistas.

Eis uma parte da entrevista:

Você se viu como um exemplo ao longo da carreira?

Até o momento da Indy, não ligava para isso. Porém, fui vendo a reação das meninas e comecei a entender e me sentir um pouco responsável por abrir mais portas. Mudei a chave e passei a ajudar, a incentivar. Sou embaixadora de um grupo chamado “Karteiras”, são pilotos amadoras de kart. Fazem um torneio o ano todo na Granja Viana e Interlagos. Eu corro uma vez por ano. Estou ajudando na carreira da Antonella Bassani (12 anos).

Mas quando se deu a mudança e você passou a se importar mais com essa imagem?

Não houve um clique. Com o tempo, fui percebendo um erro de postura que estava cometendo, parecia até que eu era machista em alguns sentidos. Comecei a trabalhar com mulheres sem querer no automobilismo, como empresárias. E vi o quão competentes e focadas elas eram. E entendiam detalhes do universo feminino, coisas de família, período menstrual. Pensei: “que besteira estou cometendo. Lutei minha carreira toda por igualdade. Se não ajudar as que vêm, não faz sentido isso”. Eu tinha um pequeno preconceito, mas era coisa de crescer em meio a esse universo só com homens.

E assédio? Já foi vítima?

Tem coisas que acontecem, mas nunca senti que fui assediada. Às vezes pode ter um xaveco mais agressivo, mas nunca me prejudicou. Sou chamada de gostosa o tempo todo. E dou risada. Acabo brincando no sentido de não ligar. Fui criando uma casca para me proteger.

Redação com AE