12/08/2019 Novos diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil mostram que o procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal, usou dois movimentos da sociedade para pressionar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional por pautas do interesse dos integrantes da Operação Lava Jato. As mensagens mostram que, logo após a morte de Teori Zavascki, em janeiro de 2017, o procurador expressou sua preocupação em relação a quem seria o substituto do ministro na relatoria da Lava Jato no STF. A um representante do Instituto Mude, de Curitiba, Deltan mostrou-se contrário à possibilidade de a função ser assumida por Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes ou Marco Aurélio. O ministro Edson Fachin acabou se transferindo para a 2ª Turma do STF e assumiu a relatoria. Mas os integrantes da operação preferiam que fosse Luís Roberto Barroso. Deltan conta que chegou a fazer um pedido ao ministro: “Ele ficou alijado de todo processo. Ninguém consultou ele em nenhum momento. Há poréns na visão dele em ir, mas insisti com um pedido final. É possível, mas improvável”. Em fevereiro de 2017, diante da possibilidade de o Supremo rever seu entendimento que permitia a prisão em segunda instância, o procurador articulou com sua colega, Thaméa Danelon, uma forma de pressionar o recém-empossado ministro Alexandre de Moraes a votar pela manutenção da medida. Com a participação de um assessor não identificado pelo Intercept, Deltan combinou com Thaméa a divulgação de vídeos, através dos movimentos Nas Ruas e Vem Pra Rua, que mostrassem que Alexandre de Moraes já havia se manifestado favoravelmente à prisão em segunda instância para pressioná-lo a manter este posicionamento. Em conversa com a procuradora, Deltan a estimulou a enviar aos movimentos um vídeo com a posição de Moraes. “Boa Tamis, acho que é por aí. É uma mensagem que deposita confiança e ao mesmo tempo empareda. Um jeito elegante de pressionar rs”, disse em um chat do Telegram. O procurador chegou a sugerir uma “edição bacana” no vídeo usado para pressionar Moraes, mas expressa sua preocupação em manter-se oculto. “Se puder, assume a sugestão como sua. Quando menos FTLJ [força-tarefa da Lava Jato] aparecer nisso, melhor”, escreveu Deltan. “Fique tranquilo. Nem menciono seu nome!”, respondeu Thaméa. Procurado, o MPF disse que não se manifestaria. Ao site, o órgão reafirmou que não reconhece as mensagens e que “é lícito aos procuradores da República interagir com entidades e movimentos da sociedade civil e estimular a causa de combate à corrupção”. O órgão também confirma que Deltan Dallagnol conhece os integrantes do Instituto Mude e fez doações “que permitiram o desenvolvimento de um curso online de cidadania”. Redação/Veja.com |