12/05/2021

Governo teme Fabio Wajngarten na CPI da Covid e considera depoimento imprevisível Governo teme Fabio Wajngarten na CPI da Covid e considera depoimento imprevisível





Depois de avaliarem como constrangedoras as falas do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, na CPI da Covid, integrantes do Palácio do Planalto estão apreensivos com o depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, marcado para esta quarta-feira (12).

Senadores da base governista e auxiliares presidenciais próximos do presidente Jair Bolsonaro avaliam que as respostas que Wajngarten dará na comissão serão uma surpresa e não há como prever o teor das declarações. Há o receio, porém, de que ele culpe o governo pela demora na compra e entrega de vacinas.

A oitiva do ex-secretário ocorre um dia após um depoimento considerado desastroso pelo Planalto. Nesta terça-feira (11), o presidente da Anvisa criticou as falas e ações negacionistas do chefe do Executivo e pediu para que ninguém siga suas orientações.

Barra Torres, que é aliado próximo e amigo do presidente, ainda confirmou a tentativa de alterar, por meio de um decreto presidencial, a bula da hidroxicloroquina, com objetivo de ampliar o seu uso para que pudesse ser usada no tratamento da Covid.

O presidente da Anvisa disse ser contra a indicação da droga, que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus.

Interlocutores de Bolsonaro destacaram que as declarações de Barra Torres aumentam a pressão sobre o presidente por ser um aliado próximo discordando publicamente da linha adotada pelo mandatário durante a pandemia.

Eles avaliam ainda que a oitiva dele deve servir para reforçar a imagem de mandatário como um líder que ignorou recomendações técnicas para o enfrentamento do vírus.

Nesta quarta, auxiliares do chefe do Executivo avaliam que ele estará novamente sob pressão na mira da CPI com o depoimento de Wajngarten.

O ex-secretário de Comunicação provocou polêmica recentemente ao afirmar em entrevista à revista Veja que a vacina desenvolvida pela americana Pfizer não foi comprada por incompetência do Ministério da Saúde, durante a gestão do general da ativa Eduardo Pazuello.

Além disso, de maneira deliberada ou não, acabou atraindo a questão para dentro do Palácio do Planalto, ao afirmar que ele próprio participou das tratativas com a empresa.

Wajngarten citou também que Bolsonaro participou de ao menos uma reunião em que houve negociação com o laboratório.

CONVOCADOS PARA ESTA SEMANA NA CPI DA COVID

Antonio Barra Torres, da Anvisa (terça-feira, 11.05)

Fabio Wajngarten (quarta-feira, 12.05)

Presidente da Pfizer no Brasil (quinta-feira, 13.05)

Ernesto Araújo (terça-feira, 18.05)

​General Eduardo Pazuello (quarta-feira, 19.05)

Senadores que integram a tropa de choque governista na comissão foram ao Planalto em busca de informações sobre a fala do ex-secretário e orientações de como proceder. Ouviram que o conteúdo do depoimento de Wajngarten é uma incógnita.

Os congressistas também ouviram que Wajngarten é considerado por auxiliares próximos do presidente como um aliado confiável. Por outro lado, há estranhamento pelo distanciamento recente.

Uma das desconfianças é que o ex-secretário de Comunicação teme ser acusado de ter atuado indevidamente durante as negociações com a Pfizer e agora estaria com receio de ser implicado.

Por isso, dizem pessoas próximas de Bolsonaro, o temor é que Wajngarten use seu depoimento para se defender, não importando se isso vai representar implicar o governo e o próprio presidente.

Na entrevista à Veja, Wajngarten tentou poupar Bolsonaro ao direcionar a Pazuello a culpa por não ter fechado acordo com a Pfizer. A estratégia, no entanto, não deixa de atingir o mandatário, avaliam aliados.

Redação com Agência Folha